sexta-feira, 20 de julho de 2012

O universo é uma saia bordada com estrelas,
uma saia feita de um pano muito macio mas muito pesado.
A vida é uma saia bordada com milhares de minúsculos universos e costurada com fios longos feitos de mistérios rebuscados.  

Nascemos usando estas duas saias ao mesmo tempo.
Mesmo quem não quer isso. Mesmo quem não vê isso. Mesmo quem não sente isso.
É inevitável, todos nós as vestimos.  
Não sei bem, mas me parece ser preciso dançar se não quisermos sentir o verdadeiro peso delas.
E pode ser que a gente não tenha sido feito pra aguentar tais pesos. Talvez sejamos pequenos demais.
Pode ser que dançar seja mesmo nossa única opção. Mas também pode ser que eu esteja errada.




terça-feira, 17 de julho de 2012

Bege, dores, ônibus.

Dia bege. Ônibus lotado.
Do fone sai a voz rouca e nordestina de Belchior. Na tela fina pendurada atrás da cadeira do motorista, completamente mudas, muitas mulheres semi-nuas cantam, rebolam, são carregadas, tocadas e enfregam-se uma nas outras. No banco em minha frente uma criança me encara. Olho da janela pra rua e de repente alguém que fito por segundos vira e olha exatamente na direção de meus olhos, como se sentisse meu olhar a cutucar suas costas. Vejo uma moto sendo lavada numa calçada. Um laranjado muito forte em algum objeto qualquer me chama a atenção em outra parte da rua.

Em minha mente pensamentos muito rápidos passam sob a forma de palavras soltas: 
"Letargia", "loucura", "fumaça", "taquicardia", "parada", "escolha"...

Em alguma cama por aí alguém sente dores muito fortes. Dentro de uma casa perto dali alguém acha que vai morrer e que não suportará a corrosão interna sentida neste instante. Um pouco mais distante nascem algumas pessoas. Menos longe, alguém que deveria trabalhar não consegue parar de pensar em algo que muito lhe preocupa. Passo pela ladeira e no ritmo das rodas do ônibus "deslizo" por debaixo das sombras frondosas daquelas àrvores gigantes.
Em meu rosto, vento. Em meus olhos, sede. Em meu coração, flores e medo.

Ouço sons de vida brotando e tão fortemente de morte também. Há céu, asfalto, carros, gente, grades, cores, barulho, lágrimas. Há dores, sorrisos, estrelas, crimes, filmes, café, desenhos, chuvas, taxis, vinhos, mágicos, ventiladores quebrados, aviões, casamentos.

Há tantas coisas.
Onde a ordem? Nada tem a ver com nada.  Não tem nada a ver estarmos aqui. Nada tem a ver.
A vida tem me saído tão desconexa... Grande, bela e doida desconexão

domingo, 15 de julho de 2012

A porta abriu sozinha.
Um espírito? Uma tempestade? Um fenômeno?
Não.
A porta não estava bem fechada.  Simples.

Qualquer vento besta abre portas mal fechadas.

E aí, será que deixo aberta, fecho mal fechada de novo, ou tranco logo?

sábado, 7 de julho de 2012




















"Está chovendo ou é um sonho?''
"Os dois."



 



















"Solto as palavras no aquário.
Entre algas navego nas estrelas.
Sigo só no sonho e me desperto.
Num abraço no vento embaraço meus cabelos.
Abro os olhos para amanhã que se estende
no quintal da minha ausência.
Acerto o relógio para esquecer o tempo.

Estou aqui e o que fazer?
Os rostos de concreto, as roupas de aço,
Estou aberto à flor, ao crime, ao anonimato.
Respiro e sigo em frente entre os feridos." 


Ronaldo Rodrigues






quarta-feira, 4 de julho de 2012

quem sabe a vida é não sonhar...

imagem da internet

















E vem aquele anjo estranho sussurrar em meu ouvido que talvez as minhas verdades não interessem a ninguém.
Seco, me encara e pergunta com seus olhos:
O que queres provar?
O que é isso que procuras? Pra quê?

Seu silêncio me convence dizendo: Cala-te. "Abstém-te e suporta''. Olhe ao redor, mas olhe "sob a perspectiva da eternidade".


Sem opção, engulo o grito.
E a vida me morre mais um pouco.


domingo, 1 de julho de 2012

Dias de cores.
Plano de fundo borrado.
Sorrisos de sábado.
Abraços de domingo.
Pupilas dilatadas.