sexta-feira, 19 de dezembro de 2014

terça-feira, 9 de dezembro de 2014

Entre casais



Há uma energia que desde que nascemos nos impulsiona  à conexão com as pessoas. Existir, nos 
contextos humanos, é, em muitos casos, uma violência. Comumente, somos levados por essa 
violência a nos tolir do desejo que nos acompanha de buscar conexão, por sentirmos a dureza 
da ausência e da negação desse atrelamento. Encontramos, muitas vezes, subterfúgios para 
furgirmos, mas o fazemos justamente por ser tão forte- consciente ou inconscientemente- a 
necessidade dessas ancoragens de existências. Independente das conjunturas, o amor é sempre ponte, 
ligação. E é sobre isso que o filme Entre Casais, de Will Alvez, fala, mesmo sem fala alguma.

A noite
















"Tudo permanece no mesmo lugar, exceto nós mesmos... Exceto nós mesmos." Ao som desta frase se inicia o "A noite",  (de Rodrigo Amboni), uma produção que incomoda as pupilas,  a mente, a alma...

Personagens misteriosos nos levam com seus devaneios por caminhos labirínticos, sempre a encontrar com pessoas sem história mas com muito a dizer. Vozes e silêncios que ecoam e refletem no vaivém da cadeira de balanço, no focar e desfocar da lente que filma e da consciência de quem assiste.

Vida e morte.
Presenças, ausências. Sonhos, vigílias... 

A confusão, a deriva, o mergulho, a solidão. Estranheza bonita. Poesia. Em muitos momentos, mesmo sem o enegrecer, se faz noite, a noite que há em todos nós: Escura (mesmo que clara), densa e misteriosamente inexplicável.

Site do filme
Trailer
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domingo, 16 de novembro de 2014

...Pelo mundo, pelas pessoas, pelo peso do existir.



Quem vê um caminhão ao longe, não compreende sua densidade. O coração acredita na leveza que os olhos enxergam. Tocá-lo pode ser suficiente para assimilar tamanha materialidade. Mas ser atropelado é saber que ele existe. Ser atropelado é existir e entender de súbito o que É um caminhão.

Parece que o mesmo acontece com relação às pessoas. Com o tempo a gente esquece a densidade do buraco negro que compõe o eixo das almas, inclusive das nossas. Esquece que ele se expande, que engole o que tem ao redor, tem incontáveis dimensões dentro de si e que é infinito e misterioso em seu interior. E de longe, todos somos leves, lindos e temos boa intenção. De perto, todos nós doemos, pesamos, ardemos. Chegar perto e tocar, pode ser também suficiente para se enxergar de fato (com a alma) uma pessoa... Mas, nada como sermos atropelados...



*E os cães latindo descontrolados, permaneceram a me seguir, mesmo tendo eu buscado outra rua.

quinta-feira, 2 de outubro de 2014

Chegando de mansinho- Dominguinhos



Sempre chegando... Sempre cabreira... Sempre de mansinho...
Uma eterna criança nesse lance doido que é existir.
Sempre com "uma sacola murcha 
Sem nada dentro pra mostrar
Mas com "um coração imenso
Cheio de esperança e amor pra dar"


terça-feira, 23 de setembro de 2014

quarta-feira, 30 de julho de 2014

Sobre cair e permanecer em queda.



Passado, presente, futuro...Memória que enlouquece, pensamento em círculos, em ciclos, existência que adoece...

Aquelas flores cheirosas que ganhei e que parecem não ter forças para sobreviver nesse vaso erradio de terra preta em que as coloquei.
Aquelas pinceladas pretas, fortes, finas, sinuosas. Tinta que manchou.

O êxtase do desbravamento do desconhecido. Prelúdio Continuação da queda, consequência do tempo dedicado a olhar o abismo.

Aquele recuo que tanto tempo atrás comecei a dar, para pegar impulso e pular mais alto, voando por sobre o precipício... Aquele retrocedo... Me imobilizou os braços e me confundiu a alma e as pernas... Em cada arroubo de assombros, me puxou mais para trás, como se fosse para trás que eu devesse ir. De costas, percorrendo o caminho contrário, por entre curvas tortuosas, reencontrei o vão em meio às gigantes pedras, e como se houvesse ali um chão, pisei.

Pisei, no nada, no vácuo, no escuro do mundo e a trajetória mudou a direção para baixo, e como quem nunca teve asas, cai.






E depois é o temor, o tremor, e uma dor que dói grave e me esmaga partindo do útero e se espalha em mim. Eis que de tanto a alma sangrar, o corpo sangrou pela segunda vez.

Sinto meu tato se distanciar, olho para minhas mãos como um morto se olha ao morrer. Sinto minha alma enfraquecer. Mas sei que vivo pois o peso do mundo ainda me devasta. Saindo de mim para o universo e vindo do universo para dentro de mim.

Noto de novo que, "viver dói e ai dos dias que me lembram disso". Ai desses dias pois que se tornam noites e pois que neles não há tempo, nem porvir, nem continuação.


A cãibra vem do peito e afeta todos os órgãos. 
                                                                                                                                 Paraliso o o       o   o.



A vida só sinto nos espasmos, segundo a segundo, a me perturbarem os músculos confusos.

Me desprendo lentamente do chão e me diluo, por entre inércias e impulsos. Me espremo, me aperto, e reluto em diminuir, mas me apequeno mais e mais, como quem tem o coração envolto por uma corda áspera, amarrado intensamente com várias voltas ferinas e hostis.

Uma corda de apequenar... Uma corda de ser mal. Uma corda de ser gente...

segunda-feira, 7 de julho de 2014

como virei pesquisadora de pássaros

Olhando agora para um despretensioso pássaro que desenhei, descansando despretensiosamente - preso no universo de uma folha branca- sobre a mesa em que costumo desenhar, lembrei que ontem, ao olhar para o mesmo pássaro, me direcionaram a pergunta/afirmação: "Agora tu é ornitóloga é?" Eu ri e respondi: "Sempre fui. Já não te disse isso?" Dei a resposta re(vi)vendo uma série de flashbacks na cabeça. Revendo hoje as mesmas lembranças, que se tratam de como me "iniciei na vida de observadora de pássaros", me senti com a necessidade de registrá-las, por isso, aqui estamos...Minha vida de "ornitóloga" teve início "mais sério" (rsrsrs) em um dia de natal daqueles em que natais ainda tinham algum estranho encanto e eu ainda achava que era tudo uma grande desculpa para ganhar aquele brinquedo que passara o ano todo querendo.

A noite era de 1999 (ou seria 1998?), minha avó materna ainda estava viva, e, se não me engano, era o último natal que passaríamos no mesmo plano. Pois bem, lá estava eu, em sua casa, sentada em sua cadeira de balanço feita de vime, abrindo a caixa de meu presente, fingindo não saber do que se tratava, ignorando o fato de que dias antes do natal ficara sabendo do presente que meu primo - de mesma idade que eu- ganharia, que seria uma  câmera filmadora de brinquedo, e que já havia batido o pé e enchido todos os sacos cabíveis para ter uma igual, afinal eu merecia algo tão fantástico...(rsrsrs) Me empolguei tanto com o recebimento do negócio que abri a caixa de um jeito que o brinquedo, que era pesado e de material quebrável, despencou direto no chão! (Isso agora me lembrou uma expressão que li em algo de Drummond, que nunca mais me largou depois que vi e agora noto que na verdade sempre me acompanhou só que eu não sabia. A expressão é : "euforia sufocada".) Foram aqueles segundos em câmera lenta em que o mundo inteiro pára para arregalar os olhos e transformar tua patetisse em uma aberração incomensurável. Não lembro se chorei, acho que não, mas sei que me desapontei comigo mesma e guardei o episódio como mais um para reforçar outros tantos que já havia ocorrido e outros milhares que estavam por vir, os quais só comprovam meu talento para o descompasso diante do mundo.

Sobre o presente, esse era um brinquedo magnífico, vou até procurar na internet e ver se encontro a imagem. Mas lembro que as principais cores eram branco, vermelho e azul, e talvez tivesse lugar para pôr alguma fita, mas na verdade, nunca tive certeza se ela filmava de verdade ou não, afinal, quebrei no dia que ganhei.  (Agora lembrei que também tive um brinquedo gravador que vinha com microfone, tive poucos brinquedos, mas eles eram bem legais pelo visto).

Após a queda, a parte da lente se desprendeu do corpo da "câmera", ela era um objeto cilíndrico, quase como um rolo de papel higiênico sem o papel, só que um pouco mais larga e mais comprida, parecendo um objeto de observação, não uma luneta, nem uma metade de binóculo, pois a lente na ponta pouco aproximava os assuntos observados, mas era convexa e olhar através dela causava algumas distorções nas imagens e em mim causava a sensação de estar observando melhor as coisas, uma vez que a lateral circular servia de moldura para a visão, e me dava a sensação de foco, pois os olhos só conseguiam ver o que se mostrava dentro da tela redonda que parecia surgir do outro lado.

Sempre fui muito observadora, detectei muito cedo em mim um enorme prazer em perceber os detalhes e sempre viajei demais nas infinitas possibilidades de texturas, cores, movimentos, linhas e elementos desse tipo que estão contidos em tudo que existe. E viajava tanto que ficava para trás nos passeios, tropeçava, me perdia, deixava coisas caírem, etc. O curioso é que justamente por estar sempre muito atenta a algum detalhe específico (que quase nunca era o trajeto que fazia ou  a localização de quem estava comigo nos lugares) recebi as alcunhas de "desatenta", "lesa", "lerdinha", ''devagar", durante toda a minha vida (até hoje).  



O fato é que a aquisição compulsória daquele "objeto cientifico de observação" otimizou minhas "pesquisas empíricas" da época, e todas as tardes, (após os filmes das sessões da tarde, claro) eu ia para a área da frente de casa e subia no que tivesse de alto por lá, e passava horas de pescoço levantado, com um olho fechado e o outro olhando através da lente o movimento que cada ser voador fazia naquele céu que ia do pátio da nossa casa ao infinito do universo. Cada voo, cada abrir de asas, cada pouso no coqueiro, cada briga, (cada cagada rsrsrs), cada passarinho e cada passarão, todos. Comecei a me considerar uma "observadora de pássaros" e nunca mais parei, simplesmente. Meu precioso objeto de trabalho se perdeu com as mudanças de casa, mas em minhas ultimas lembranças dele o vejo com o vidro da sua lente já bem debilitado entre sujeiras e arranhões advindas de tantos trabalhos de campo... Observava os detalhes de tudo e normalmente fazia os relatórios na hora, e em voz alta, quando ninguém se aproximava, claro. 

O mundo doido do portão para fora, a rua, as pessoas, o fluxo da cidade seguindo e eu lá encasquetada com tudo aquilo, quão impressionante me pareciam aqueles pequenos seres que podiam voar! Não sei se me impressionava mais com os pássaros ou com a forma como as pessoas os consideravam como mais qualquer coisa normal da paisagem. Me encantava como eram tão serelepes, tão curiosos, tão leves. "Eles voam!  Cantam! Possuem vida, expressões... Será que pensam? Brabos eu sei que eles ficam, então será que ficam felizes?" Pensava eu através das palavras que possuía na época... E todas aquelas penas e cores? Quanta delicadeza e beleza! E assim, passava as tardes me enchendo os olhos e me enchendo a cabeça de pensamentos engraçados que só criança consegue ter. Tudo isso graças à câmera que eu quebrei...

Procurei na internet e não encontrei uma imagem desse brinquedo que tive, muito estranho... Ainda mais para mim que quase não confio em meu cérebro e preciso vez ou outra (quase sempre) de provas concretas para voltar a acreditar que certas coisas de fato passaram pela minha vida. Mas como minha experiência como observadora de pássaros nunca passou, não fica difícil ter certeza dessas vivências todas que me vêm a mente com muito afeto e a leveza da infância bacana que tive. Hoje sei que "observar pássaros" é realmente uma profissão e possui um nome complicado: "ornitologia"... Eu seria uma ornitóloga com muito prazer, com certeza. Mas como nunca levei a sério as análises das minhas pesquisas de quintal, continuo sendo uma singela "observadora de pássaros" mesmo, que adora perceber o detalhe que eles são diante de tudo. Detalhes lindos e impressionantes, que ainda me causam espanto e muita admiração.



sábado, 24 de maio de 2014

quarta-feira, 7 de maio de 2014

Seres imóveis povoam minhas margens. Onde a vida?
Sinto apenas o sobrevôo de pássaros invisíveis.
Só voz e canto...
E é pesado esse vento que sustenta minha mão e esmaga meu rosto.
Muitos hequitares inóquos, movimentos internos desconhecidos.

Onde a ânsia pelo porvir?
Árvores altas dançam ao redor e enganam minha vista.
Há uma Samaúma em todo ser que existe.
Existem muitas coisas nesse mundo... Eu não dou conta.

quarta-feira, 12 de março de 2014

E é tudo medo

Na madrugada, pássaros da noite entoam cantos tristes e choram suas duras penas.
Bati a coxa na quina da mesa. Dor aguda. Dor roxa.

Tortuosas torturas...
Meu manto rasgado enleva o cardume e o cheiro de vida que flui da água.
Houve um tempo em que as pessoas me amavam....
Eu era maior que meu corpo, muito maior.
Era flutuante, leve, composta de uma suposta lucidez translucidamente clara...
Já não sou.

Quando a leveza se vai, o que fica dói e fere.
Quando não se é mais leve, se é pesado e se causa pesares.
Se é preenchido com pedras e se vira uma arma de se proteger. 
E é tudo medo, eu sei.







terça-feira, 18 de fevereiro de 2014