sexta-feira, 28 de outubro de 2016

céu




De Caruaru à Recife

Cactus. Montanhas recortadas. Retalhos de terra e planta. Vários tons de verde e marrom.


Durante o caminho três coisas me chamaram atenção além de todo o resto:

1. Um ser de três cabeças semelhante a um cão, próximo a um peixe e um cavalo marinho, ambos gigantes com pelo menos uns dois metros de altura... Pareciam ser de concreto e ferro. Todos como que guardavam a frente de uma porteira. Uma entrada de um lugar com muro bem colorido. Um lugar no qual preciso entrar um dia. Não vou esquecer.

2. Uma casinha um pouco tombada para o lado, bem ao fundo de um terreno bem comprido e fino quase como um caminho por onde só se passa e não se mora. Acima do portão, bandeirolas de pano com cores variadas tremulavam com o vento e indicavam alguma coisa sobre existir ali uma festividade invisível de todas as tardes.

3. Um barraco quadrado na beira da estrada, feito de ripas e pedaços reaproveitados de lonas com imagens publicitárias. Não parecia ter chão, nem divisões por dentro. Havia pobreza... No meio do que parecia a entrada, pendurado em uma ripa, um boneco colorido que aparentava ser de papel machê envernizado. Sozinho, de braços abertos, ligeiramente inclinado, parecia saudar quem passava pela estrada. Sua expressão não recordo, não sei se cheguei a enxergar. Havia beleza... Sorri sozinha e retribui a saudação. Pessoa que colocou ali o boneco para velar os viajeiros, eu enxergo você. Obrigada por existir.

Parti...  Pela linda estrada... Pelos metrôs lotados de vendedores e sotaques... Pela saudade de alguma coisa que já vivi nessas terras em algum tempo que desconhecço... Feliz por ter podido voltar... Olhando distante pela cidade passando pelas janelas... Pedi: Nordeste me prometa que eu voltarei. De volta só o silêncio recebi como resposta.


segunda-feira, 17 de outubro de 2016

sábado, 15 de outubro de 2016

quarta-feira, 12 de outubro de 2016

nadalém

De volta aos espasmos... Tenho ouvido muito a músicas tristes. "Que música de igreja é essa menina?" É que se alojou aqui uma fraqueza... Vertigem constante. Desvontade... Preguiça de tudo isso que é vida. Nada é suficiente. Tudo o que não se possui é sempre o que parece mais maravilhoso. Dormências... Concentração no oco que há, no oco que sou. Aí não consigo fingir, só consigo me ligar ao que sinto que é ligado à minha vibração ou à minha ausência de vibração. Tenho tido dificuldade de me traduzir à mim mesma. Não sai um texto que me agrade, nenhum desenho flui, nada é macio, tudo é moroso e pouco nítido. O tempo vai pesando e de repente não há mais nenhuma batida enérgica que possa sair da playlist do celular, tudo é devagar, sem pressa, quase morto, como tem sido o bombar do meu sangue. As palavras saem como uma embalagem de chiclete jogada por alguém displicentemente na rua... Frívolas, secas, solitárias e inúteis.

Entro em mim vestindo um farrapo qualquer. Olho ao redor, não tiro os sapatos, não lavo as mãos, não bebo água, não me banho. Apenas me sento na cadeira confortável da sala de estar, misturo com o café leite em pó. Me embalo como se nada mais além houvesse e pode ser que nada haja mesmo e esse "além" seja mais uma infante invenção humana. 

É a tal da primavera minguante que vez ou outra entre espasmos e dormências me amansa para além do limite saudável da mansidão. Quase paralisada, eu absorta me desconecto, ou me conecto com outras dimensões além do que é palpável no passar dos dias. Não sei... No fundo é um tremor... Um terror... Um medo... No fundo é só o fundo, o piso de areia movediça da alma crescendo... 

Termino o café e permaneço. Nenhum movimento além de toda a loucura do mundo que se move alucinada da porta pra fora. No fundo da xícara, além de meus próprios olhos, o tempo e mais nada.

"Não há nada além
Não há nada além agora aqui
Não há nada agora além daquilo que eu sou

Silêncio e som
Povoam o meu corpo
Era a pedra e eu
(...)
E o nada
Pousando em mim"

...