sábado, 21 de janeiro de 2017

quinquilharias ou informações aleatórias e desnecessárias sobre mim




Guardo quinquilharias. Acumulo tudo. Pensar em desapego me desespera. Mas não me refiro às poucas coisas razoavelmente caras que possuo. Meu apego se atém as minusculosidades. Tenho desde uma bolinha de gude encontrada enterrada na estrada onde ajudava na gravação de um vídeo, passando por uma coleção de cartas de baralho encontradas na rua, algumas dezenas de fitas vhs, sacolas com dezenhas de frascos vazios de desodorante, sacolas contendo outras sacolas, muitos papéis, caixas contendo miudezas infinitas... Outro dia finalmente consegui jogar fora alguns pedaços de varetinhas de bambu verde os quais estavam guardados desde o ensino médio... É, eu sei, é grave. Mas... O que não o é nessa vida? Me pergunto...

Minha família é o choro e a melancolia. Há muita solidão e lágrima nisso de que somos feitos por aqui. Nesse sangue que passamos um para o outro corre algo de triste, que não cabe na gente e transborda no suor dos dias. Ainda não tem uma imagem que me corroa tanto nessa vida quanto acompanhar o rolar pesado e salgado de lágrimas a cair pelo rosto da minha mãe. A forma como ela tenta segurar o choro tensionando os músculos do maxilar, contraindo os lábios, e quando a fala embarga e chega a hora de abrir as portas do precipício que há entre os olhos e o chão. As sombrancelhas caem sob o peso de um coração pesado. Dói ver essa cena tão repetidas vezes. Dói mais ainda não saber o que fazer...

Ontem eu senti alguém se mexer dentro de mim. Não assisti na distância da tela preta e azul. Senti com o tocar de minhas mãos. Assustadoramente mágico. Sorri e pela primeira vez consegui iniciar uma conversa, singela e tímida mas finalmente falada na segunda pessoa, me reportando diretamente a este pequenino alguém que vem vindo. Não sei o por quê, ainda não havia conseguido fazer isso. 
E afinal quem é que vem chegando nessa estação que eu sou? Será que de onde vem há mais leveza que pesar?

Inacreditável isso de existir. E parece que tudo isso nunca será sobre entender. Não sei do que se trata, só sei de perguntas. Tem um peso aqui, que parece vir de tudo o que não tenho, tudo o que não há por perto. Quem será que inventou isso de o presente sempre ser menor que o futuro? Quem inventou isso de poder inventar na cabeça o que ainda não houve nos hojes? Amanhã...  Quantos fantasmas somos capazes de aprisionar em nosso peito?

Eu sempre quis ter filhos, desde sempre, por achar as crianças tão encantadoras com suas curiosidades e formas simples de lidar com tudo. Talvez eu jamais tenha parado para pensar no processo que precede a chegada de um ser humano a este planeta. Nunca imaginei que me perturbaria tanto. Me sinto flutuando em um espaço escuro, que de tão escuro não enxergo se o que há ao redor é pequeno ou infinito. A sensação é de estar rodeada de abismos que podem ter estrelas penduradas ou não. A única coisa que vejo aqui sou eu mesma, uma espécie de espelho cujo reflexo mostra o fundo do que não se vê. E só há o fundo de mim a ser visto por aqui. Não sei o que pensar sobre isso. Sinto que há coisas pra jogar fora, mas por onde começar se tudo o que há em mim divide espaço com bugingangas as mais diversas? Pode ser que eu seja a principal tralha da qual  preciso  me desfazer... Não sei.

sábado, 7 de janeiro de 2017

o cosmo em mim



Vi uma pessoa. Alguém que se mexia. Vi mãos e pés, cabeça e barriga. Um ser, mas não qualquer, um humano. Assombro. Quer dizer então que guardo em mim o infinito? Meu corpo carrega a imensidão do lugar de onde vêm as pessoas... Quão grande é isso? Não sou capaz de medir. O que posso fazer é não entender como esse processo pode ser tão normal. Todos que aqui estamos viemos através dele. Nascer... Quantos mistérios carrega esta palavra? Como alguém pode se acostumar com um outro ser humano dentro de si? De onde veem eles antes de atravessar o portal? Antes de nos atravessar? Antes de mergulhar em uma dimensão oculta e através de um segundo ser, emergir em uma dimensão outra? Outro "aqui" e outro "agora"... Somos portais... Que loucura! Me tremo ao tentar pensar na amplitude que isso possa ter. Desde que me achastes, pequenino alguém, sou toda desnorteio, toda esplendor, toda assombro e toda amor. Encarando o cosmo em mim, olhando para os céus que se abrem em abismo e luz aqui, te aguardo com a ânsia de quem nada sabe.