sábado, 18 de fevereiro de 2017

Aquelas tardes fevereiras


Alguém reclama fome em mim. Passo horas entre curtires e notícias inúteis. Faço coisas das quais me arrependo no segundo seguinte. Já não consigo permanecer na mesma posição por muito tempo, e mesmo assim, como quem deseja sentir dor, por vezes permaneço. Nunca foi tão frio nestes lugares do trópico acima da linha do equador. Literalmente. Nuvens cinzas pesadas todos os dias têm visitado e coberto, primeiro ao rio amazonas e depois a toda a cidade de Macapá. Dias cinzas. Dores nas juntas. Chuva fina que escorre quase que eternamente em tudo que é aqui.

Ontem finalmente pude ser fantasma de novo e vagar pelas ruas a esmo, calada, sem encontrar ninguém que conheço, só vendo e sendo a/na cidade. Eu e a sombrinha, e o asfalto, e as pessoas sem rostos; eu e o rio, e o trapiche, e a maré enchendo; eu e o chuvisco, os bancos úmidos de concreto e as tardes fevereiras. Nós todos e estes sentimentos arvorescos que se afincam entre os becos apertados desses dias... Aquela cor de tinta que não gostei, aqueles carnavais que não vivi, aquelas músicas, aquelas vidas secretas das lágrimas notívagas, aquele desejo de criar coexistindo com aquela inércia... Coisas de quem se amofina em si nestes dias molhados e regados de sentimentos alegretes de ansiosos foliões. Jeito desencontrado de qualquer coisa, esse meu.


*Às vezes me questiono a que serve escrever essas coisas... Nunca encontro resposta. Mas também não consigo me convencer que de nada serve, por que é inevitável algum alívio ao organizar parte do que paira em mim, então isso por si, já deve bastar.