Passado, presente, futuro...Memória que enlouquece, pensamento em círculos, em ciclos, existência que adoece...
Aquelas flores cheirosas que
ganhei e que parecem não ter forças para sobreviver nesse vaso erradio de terra
preta em que as coloquei.
Aquelas pinceladas pretas,
fortes, finas, sinuosas. Tinta que manchou.
O êxtase do desbravamento do desconhecido. Prelúdio Continuação da queda, consequência do tempo dedicado a olhar o abismo.
Aquele recuo que tanto tempo
atrás comecei a dar, para pegar impulso e pular mais alto, voando por sobre o
precipício... Aquele retrocedo... Me imobilizou os braços e me confundiu a alma
e as pernas... Em cada arroubo de assombros, me puxou mais para trás, como se
fosse para trás que eu devesse ir. De costas, percorrendo o caminho
contrário, por entre curvas tortuosas, reencontrei o vão em meio às gigantes
pedras, e como se houvesse ali um chão, pisei.
Pisei, no nada, no vácuo, no
escuro do mundo e a trajetória mudou a direção para baixo, e como quem nunca
teve asas, cai.
E depois é o temor, o tremor, e uma dor que dói grave e me esmaga partindo do útero e se espalha em mim. Eis que de tanto a alma sangrar, o corpo sangrou pela segunda vez.
Sinto meu tato se distanciar,
olho para minhas mãos como um morto se olha ao morrer. Sinto minha alma
enfraquecer. Mas sei que vivo pois o peso do mundo ainda me devasta. Saindo de
mim para o universo e vindo do universo para dentro de mim.
Noto de novo que, "viver dói
e ai dos dias que me lembram disso". Ai desses dias pois que se tornam
noites e pois que neles não há tempo, nem porvir, nem continuação.
A cãibra vem do peito e afeta
todos os órgãos.
Paraliso o o o o.
A vida só sinto nos espasmos, segundo a segundo, a me perturbarem os músculos confusos.
Me desprendo lentamente do chão e me diluo, por entre inércias e impulsos. Me espremo, me aperto, e reluto em
diminuir, mas me apequeno mais e mais, como quem tem o coração envolto por uma corda áspera,
amarrado intensamente com várias voltas ferinas e hostis.
Uma corda de apequenar... Uma corda de ser mal. Uma corda de ser gente...