sexta-feira, 2 de setembro de 2016

debaixo das camadas de carne, trincheiras...


Há em mim um algoz sanguinário e odioso, de peito petrificado, pequeno e demoníaco, sedento de lágrimas negras, que fere a cada passo que dá. É feio e ingrato, egoísta e mesquinho. Frágil e rancoroso. Insanamente existe ele, a se defender, a atacar. Sua vítima, igualmente, mora em mim, e minha visão fica turva ao tentar enxergá-la, só sei que também existe em alguma dimensão de meu vão interior. Meu oco é então, pano de fundo para as mais sangrentas batalhas. Lutas sem sentido, vazias, dolorosas... Sem entender, sigo sendo perfurada a flechadas, tiros, explosões e muitas implosões. Algo em mim me quer muito mal. E algo em mim foge disso, sob ferozes ataques. Me sinto como um organismo perturbado que por motivos obscuros confunde proteínas com agentes invasores, e as ataca. Uma alma autoimune talvez? Há dias em que acordo e junto de mim despertam esses demônios, não sei como detê-los. E será que há como? Onde a poesia? Onde a sustância de tudo que há? Onde eu fico enquanto duelam em mim algozes mortais? Quem me guarda de mim?  
Não me admira todo esse estrago na humanidade, se na mínima instância da existência, dentro dos liames dos universos particulares, tanto tormento pode ser criado por um único ser...

*não sei de quem é a imagem