Abro a porta às dez da noite, ponho-me a empurarr os olhos pra fora,
só pra confirmar que é noite. É noite. O vento frio e amarelado de
rua deserta e molhada me reafirma que é mesmo noite agora. Há
vazio, há niguém, há nada ali além do meu olhar que paira
loucamente de um extremo a outro da rua. Não existe fora e nem
dentro quando ponho os olhos da porta pra lá.
"Tiro na mente"... Ouvi duas vezes essa frase essa
semana... Num mesmo dia, aliás. Mesma conversa, na verdade. Nunca
havia ouvido e muito menos pensado na possibilidade... BUM! Perfurou
minha cabeça ouvir esse conjunto de palavras... Poderia a mente ser
acertada fisicamente, seja lá pelo que fosse?
E como é o inverso de um abraço? Uma sensação forte e
desamparadora de não-encontro de corpos e almas, de não-contato, de
não-afeto... Como é isso? A sensação dura e ávida da ausência de pressão da matéria
corpórea de um ser sobre outro de forma simultânea. Acho que envolve sentimento além do sensório... Se o abraço é
algo bilateral, o não-abraço também o é? Bem que poderia, mas me
parece que não.