Estava no quintal agora a pouco, lembrei do que pensei/senti lá que me impulsionou a escrever aqui. Pensei no quanto gosto do limo. Da sua existência escura e úmida. Rasteira e devagar. Viva e de natureza macia. Pensei também no quanto gosto de restos envelhecidos de construção de cimento. Olhei ao redor, vi às pilastras de concreto encostadas no muro, com suas estruturas de vergalhão de ferro à mostra. O ser humano gosta muito de construir. Constrói indiscriminadamente, sem pensar em nada, constrói de olhos fechados e com muito afinco, aquilo que mais à frente acaba sempre por abandonar. A gente constrói na mesma medida em que abandona. Talvez seja tudo uma pretensão demasiada isso de buscar materiais duradouros, de querer permanecer, de buscar se perpetuar por meio das coisas. Tudo está indo e nossos muros e pilastras seguirão sendo abraçados suavemente pelo musgo. Por que para cada ruína há um cobertor de vida mole e verde, escuro e pegajoso à espreita, à espera, à disposição para nos falar sobre coisas que surgem da nossa impermanência... Ingênuos, temos pena dos insetos que vivem apenas um dia sem saber que a mesma pena têm de nós o mundo e as coisas que nós mesmos criamos.