domingo, 13 de outubro de 2019

dança solita






Me prostro debruçada num muro que dá para o nada. Me debato por defender o direito à poesia…
O que em minha matéria faz com que me afete tanto pelas pessoas que passam por mim?
Que tipo de conexões são essas que crio?

Eu não sei passar e nem deixar que passem. Parece que é de ficar que sou feita. E de ficar por aí, por onde será que tenho andado? Por que há tempos já nem me vejo e nem me acho.

Dessa vez estive diante da solidão e me vi muito mais distante de mim do que sequer pude imaginar até aqui.

De solidão nunca soube verdadeiramente…. Até que ela, triste, pesada e nua, amanheceu na beira da cama, travestida de saudade: Me encarou fixamente e eu morri. Morri por enxergá-la, de verdade, pela primeira vez na vida.

Como é densa, como pesa…. E como dói…. De nada disso sabia eu!
Talvez só seja solidão de fato, quando até mesmo a pessoa se vai de si.
Os tambores de Mateus Aleluia e a fé de Luedji Luna têm me soprado desejos de vida no decorrer dos dias.
Os cenários vão caindo e a realidade por trás é misteriosamente cruel e desconhecida.
Agora entendo o por quê de toda essa correria... 

Dedos gelados tocando o meio da costa do universo deitado na cama. Suspiros de futuro... Arrepio doce... Dedos gelados tocando o meio da testa do universo em expansão. Suspiros de(s)ilusão. Olhando compenetradamente para um autômato delicado que fiz, penso, repentinamente, como quem desperta de profundo torpor, que é preciso deixar o futuro pra lá.

Já me despi de algumas coisas antes muito sólidas, como a ideia de amor, a ideia de maternidade, a ideia de relação, a ideia de felicidade... Nesse setembro de dois mil e dezenove, me despedi da ideia de futuro!

Futuro não há! O futuro não é! Como pude passar tanto tempo apoiada nessa não coisa?

Não entendo como a gente se preenche de tanta coisa que não existe... Que difícil "dar o prazer dessa contradança" quando não parece tocar música alguma, quando o par é ninguém e quando chão não há.

Mas é solitária, é solitária sim essa dança. A dança é solitária, mas por quê, então, tantos pares ao redor a bailar? O que ouvem? Será que cantam, baixinho, um para o outro? Será que fingem, ambos, ouvir alguma coisa, quando não ouvem mais do que os sons de seus sistemas nervoso e vascular trabalhando e talvez o barulho de suas próprias almas? Como de praxe, não sei.

Não ouço nada no momento e é bem escuro ao redor. Me mantenho aqui, quase parada por dentro e por fora, flutuando, com movimentos lerdos e olhar vago, entre idiomas e seres que não existem. Nas dobras do blusão, escondo, não um beijo, mas as coordenadas de uma coreografia secreta (até para mim mesma), descompassada, pensa, que espero que me sirva de algo, um dia.