domingo, 15 de dezembro de 2019

dezembro

É dezembro
O Brasil escorre ensanguentado por algum ralo do universo
Chove nesse instante acima da Linha do Equador
Entro no uber, com fones nos ouvidos
Estico o rosto para o lado e projeto o olhar através do vidro
Imagino alguém acarinhando meu pescoço docemente
Sigo vendo a decadência passar em câmera lenta e preto e branco por mim
Já é quase noite nessa chuva de dezembro
A escuridão ainda não se fez total
"Preciso parar na padaria antes"
Parei...
Não tinha mais o doce que eu queria. 

domingo, 13 de outubro de 2019

dança solita






Me prostro debruçada num muro que dá para o nada. Me debato por defender o direito à poesia…
O que em minha matéria faz com que me afete tanto pelas pessoas que passam por mim?
Que tipo de conexões são essas que crio?

Eu não sei passar e nem deixar que passem. Parece que é de ficar que sou feita. E de ficar por aí, por onde será que tenho andado? Por que há tempos já nem me vejo e nem me acho.

Dessa vez estive diante da solidão e me vi muito mais distante de mim do que sequer pude imaginar até aqui.

De solidão nunca soube verdadeiramente…. Até que ela, triste, pesada e nua, amanheceu na beira da cama, travestida de saudade: Me encarou fixamente e eu morri. Morri por enxergá-la, de verdade, pela primeira vez na vida.

Como é densa, como pesa…. E como dói…. De nada disso sabia eu!
Talvez só seja solidão de fato, quando até mesmo a pessoa se vai de si.
Os tambores de Mateus Aleluia e a fé de Luedji Luna têm me soprado desejos de vida no decorrer dos dias.
Os cenários vão caindo e a realidade por trás é misteriosamente cruel e desconhecida.
Agora entendo o por quê de toda essa correria... 

Dedos gelados tocando o meio da costa do universo deitado na cama. Suspiros de futuro... Arrepio doce... Dedos gelados tocando o meio da testa do universo em expansão. Suspiros de(s)ilusão. Olhando compenetradamente para um autômato delicado que fiz, penso, repentinamente, como quem desperta de profundo torpor, que é preciso deixar o futuro pra lá.

Já me despi de algumas coisas antes muito sólidas, como a ideia de amor, a ideia de maternidade, a ideia de relação, a ideia de felicidade... Nesse setembro de dois mil e dezenove, me despedi da ideia de futuro!

Futuro não há! O futuro não é! Como pude passar tanto tempo apoiada nessa não coisa?

Não entendo como a gente se preenche de tanta coisa que não existe... Que difícil "dar o prazer dessa contradança" quando não parece tocar música alguma, quando o par é ninguém e quando chão não há.

Mas é solitária, é solitária sim essa dança. A dança é solitária, mas por quê, então, tantos pares ao redor a bailar? O que ouvem? Será que cantam, baixinho, um para o outro? Será que fingem, ambos, ouvir alguma coisa, quando não ouvem mais do que os sons de seus sistemas nervoso e vascular trabalhando e talvez o barulho de suas próprias almas? Como de praxe, não sei.

Não ouço nada no momento e é bem escuro ao redor. Me mantenho aqui, quase parada por dentro e por fora, flutuando, com movimentos lerdos e olhar vago, entre idiomas e seres que não existem. Nas dobras do blusão, escondo, não um beijo, mas as coordenadas de uma coreografia secreta (até para mim mesma), descompassada, pensa, que espero que me sirva de algo, um dia.






quinta-feira, 5 de setembro de 2019

Aos poucos








<<Silêncio >>








Aquele silêncio que só os lugares desertos sabem fazer.
~Música de vento~
Por toda a rua apenas o movimento das folhas das árvores e, ao longe, o dos carros e pessoas nas duas ruas entre as quais a minha está.


<<Ninguém>>


Como um esparadrapo que se tira lentamente e arranca pelo por pelo de um braço cabeludo,

Dói mais quando se vai assim...

                  Ao
                         s
                                   po
                                          u
                                                          co
     
                                                                         s..




                 


sábado, 20 de julho de 2019

na linha que cortou ao meio aquele ano

Luz avermelhada.
Silêncio.
Sentei na cadeira de balanço embalei em meus braços o resto da minha vida.
Senti em minhas costas o macio conforto de um abismo -  vida, morte, beleza e horror em profundidades e lonjuras até então desconhecidas.
Minha carne...Tão viva carne, viva. Crua.
Cria.
Viscera-l crisálida, pálida, sem-sangue/suga o peito, o leite. Via láctea.
Vi, nos olhos todos espalhados em ti, a mim, ao universo e a história de todos os tempos.







quinta-feira, 6 de junho de 2019

q ue ria

                           que-ria....
Comer
Uma coisa gostosa
Ouvir
Músicas legais
                      com
pessoas legais que não existem

Desenhar
com linhas bem finas
                -Os sentimentos todos que me angustiam
Beijar
em chamas, quem ardendo me chamar
Queria morrer. Nascer...
Dançar...
No escuro,
no silêncio,
Cantar

Q ue ria
Escrever
des
   con fi
gurada
mente] de forma bem
mediocre e estranha

ler
mentes
e mentiras

Decodificar entranhas

Queria querer,
mas acreditanto,
ao menos fantasiosa mente
]  que teria o que quero
  bem aqui
e bem
agora.  Tudo isso,
em mim

tão forte quanto perto

me ofegando a res piraç~~ao

movimento em
    es   piral
 respiro fundo

paro
e piro.


quinta-feira, 30 de maio de 2019

chuva

Hoje eu quase não comi.
Há um buraco de minhoca crescendo em mim.

Outro dia Ceci molhou um dos lados de minha calça enquanto eu lhe banhava. Minha memória, com a rapidez da velocidade da luz, me levou para os tantos banhos de chuva que já tomei na vida. Me levou também a me perguntar pelo que me fez deixar de tomá-los.

Quando foi que parei de querer me molhar com a água do céu? Quando foi que fiquei completamente indisposta de receber as gotas caindo em meu corpo, enxarcando minhas roupas, abrindo meu sorriso em sol, em dó, em tom maior... ? Quando foi que me abandonei assim pelo caminho?

quinta-feira, 23 de maio de 2019

Macapá

Lágrimas de emoção sempre rolam em meu semblante,
Quando te vejo do alto, quando te vejo distante.
Por entre nuvens, tuas luzinhas, teu Amazonas caudaloso.
Sinto de uma só vez o peso de tua gente, tuas belezas e teu cotidiano doloroso.
Me viste crescer e sempre que parto penso no quanto também te quero bem e o quanto te quero grande.

sábado, 20 de abril de 2019

Linha imaginária.

Ontem entendi:
Há uma linha,
Demasiadamente fina,
Que separa o "ser gigante" do "ser minuscula".
Ela me corta, bem ao centro, como o eixo de um planeta, o cerne de uma árvore, a linha do equador, o miolo de um livro.
Entendi, finalmente, que não adianta enxergar de outra forma esse tudo que eu sou... Ele é feito de "meio", interseção...
Duas metades:
Uma muito grande.
Uma muito pequena.
Ambas: eu.

E é fina, extremamente fina, essa separação.
Parece banal cambalear por esses lados.
E parece, cada vez mais, que é isso que é ser humano.
Agora entendo.

terça-feira, 16 de abril de 2019

Riso nascente


Quem te vê assim, aberta ao mundo por um sorriso, gargalhada leve, dentinhos cortando o vento, em um movimento profundo de alegria... Nao sabe, nem imagina, que vi quando nasceu teu sorriso! E não sabe que eu nao podia imaginar quão mais belo ele poderia ficar com o passar do tempo. Vi nascer um sorriso! Que rara beleza de se viver!  Quanto mais vivo mais noto o quanto nao é tão difícil ver sorrisos morrerem. Quando o riso se põe, tal qual sol se indo num fim de tarde... Amarelado se esvai ... Mas ver um sorriso nascer, me estremeceu o sentir, é como se fizesse também nascer um sol dentro de mim. 

domingo, 7 de abril de 2019

Manhã nova

~notas agudas e espaçadas de piano~

De-li-ca-da-men-te
Tal qual gota de orvalho
Que ao mesmo tempo firme e trêmula
Em sua translúcidez cíclica
Na ponta da verde folha, viva e crescente
Sob a luz difusa, clara e serena do sol preguiçoso da manhã
Amanheço.
De um sono profundo... Vagaroso... Pesado... Escuro... Amanheço!
Me confundo com a manhã, me abro à luz viva do universo.
Abro os olhos, os olhos do mundo me abrem.
Eu, água... Volto a fluir entre muitas dimensões: Terra, ar, organismos vivos, escorro pelas ruelas, molho rostos, alago...
Evaporo, dissolvo, diluo, arrebento!
Chovo, como garoa, como tempestade!
Sou orvalho, oceano, poça.
Rio Amazonas, lago, pororoca!
Eu existo! Eu vivo! Sou/Estou aqui!
Sigo... Nem sempre líquida e flúida, mas, de novo, em movimento.