sábado, 15 de agosto de 2020

limo



Estava no quintal agora a pouco, lembrei do que pensei/senti lá que me impulsionou a escrever aqui. Pensei no quanto gosto do limo. Da sua existência escura e úmida. Rasteira e devagar. Viva e de natureza macia. Pensei também no quanto gosto de restos envelhecidos de construção de cimento. Olhei ao redor, vi às pilastras de concreto encostadas no muro, com suas estruturas de vergalhão de ferro à mostra. O ser humano gosta muito de construir. Constrói indiscriminadamente, sem pensar em nada, constrói de olhos fechados e com muito afinco, aquilo que mais à frente acaba sempre por abandonar. A gente constrói na mesma medida em que abandona. Talvez seja tudo uma pretensão demasiada isso de buscar materiais duradouros, de querer permanecer, de buscar se perpetuar por meio das coisas. Tudo está indo e nossos muros e pilastras seguirão sendo abraçados suavemente pelo musgo. Por que para cada ruína há um cobertor de vida mole e verde, escuro e pegajoso à espreita, à espera, à disposição para nos falar sobre coisas que surgem da nossa impermanência... Ingênuos, temos pena dos insetos que vivem apenas um dia sem saber que a mesma pena têm de nós o mundo e as coisas que nós mesmos criamos.

quinta-feira, 23 de abril de 2020

cisco


Tenho olhos demais, tudo me é cisco.

terça-feira, 25 de fevereiro de 2020

Terça de carnaval•°

Acordada desde as sete. No fundo da rede, no escuro do quarto, pensando, sentindo e enxergando coisas demais, como de praxe.
Tentei ir sozinha ao cinema ontem, não deu tempo.
Tentei ver Nostalghia, meu computador travou.
Tentei ver A chegada, dormi.
Não fui, não lembrei, não cheguei... Era tarde...
Acordei cedo e me perdi no emaranhado de músicas tristes com vozes sussurradas e suas capas de álbuns com  imagens desbotadas de pessoas com cabelos desgrenhados e olhos vagos/espantados. Em meio às músicas, expectativas completamente infundadas e sonhos de um futuro que não vem, provavelmente. Dentro, alguma coisa bonita e triste jorra - incessante

domingo, 9 de fevereiro de 2020

Esvair-se

Nasci com problema de apreciar sobrevoos de corujas...

~~ Eu não tô conseguindo ~~

Sinto que vou passar por essa vida completamente invisível ( a que? a quem? Não sei).
Não entendo o que as pessoas fazem de diferente pra que lhes aconteça um batizado, um casamento ou um picnic dominical / matinal.
Meus problemas de tão infinitezimais diante dos problemas do mundo, hão de me causar um big bang ou pelo menos o nascimento de uma estrela anã ou um buraco negro.
Tenho chorado, não tanto por fora, mas tanto por dentro, que nem sei.
Esvair-se.
Vai
Ir
Se.
O amor comeu meu nome sim e minha identidade também. O amor passou do meu lado, comeu a si mesmo, e do avesso de si, desdenhou minha existência. Se comeu a mim foi por indiferença.

Juventude não há
Amor não há
Eu não hei de estar, em nenhum lugar
<<<Daqui a alguns anos esses aplicativos não vão mais existir>>>
Onde vamos ?
Poeira
Nas nuvens
Poeira
Na terra
Derreter
Esvair
Na espera vaga
Por alguma gota de um nada
Absoluto
Um não existir