terça-feira, 5 de maio de 2015

delicadeza





 
 






Já havia estado com um filhote de passarinho em suas mãos, já o havia alimentado e passado os dedos por sua pele fina sentindo seus ossinhos que de tão fracos deram a ela medo e consciência de seu peso e dimensão. Quão ínfima era aquela matéria, ainda que imbuída de vida, apenas um conjunto pouco denso de carne que facilmente morreria num simples fechar frio e demorado de mão. Em outro momento usando os dedos dos pés para acarinhar seu cachorrinho -uma raça pequena, leve e carente- esbarrou na mesma fragilidade, havia tanta delicadeza naquele pequeno corpo, tanta que um pisão forte ou um peso a mais nos seus pés pressionando aquelas costelas seriam capaz de ceifar também aquela vida.

Sentiu pena daquele ser e da sua ingenuidade. Lembrou do passarinho e também teve pena dele. Eis que alguns sopros de pensamento começaram a lhe rondar perguntando: “Que animais será que ao nos ter em mãos sentem também pena da nossa fragilidade humana? Que animal “gigante” me pode ter a tutela e me tocar cuidadosamente as vértebras, com medo, com horror, ou pena, por tamanha delicadeza? Que bichos são esses que não nos matam por não querer mas qualquer uso de seu potencial total de força extinguiria o que nos mantêm vivos?” Se imaginou sendo cuidada por um elefante, uma baleia, uma árvore antiga.. Teve pena de si mesma.