sábado, 2 de junho de 2018

Não sou grande.

Sentada, vejo/sinto/ouço Alceu Valença cantando La Belle de Jour e Girassol. Comigo, Cecília. Em silêncio admiramos alguma coisa grande de beleza pairando no ar. Em suspensão aqueles minutos parecem levar dias. Olho ao redor, tudo parado. Olho para fora de casa através do vidro da porta, as mangueiras que fazem parte da vista estão a bailar devagar. Cada vez mais devagar... Até que param. Assim como está parado também meu corpo. Percebo então que estou ali, bem ali, exatamente ali, inteira. E junto a mim um pequeno ser humano também inteiramente presente. Conectadas pelo colo, nos ligamos num abraço macio e quentinho. Olho novamente pela janela, fito as mangueiras agora já completamente estáticas. "Eu não sou grande", essas palavras são sopradas em minha mente por algum sussurro do universo e me servem de estalo. Eu não sou grande! De fato, não sou. Sou pequena em demasia. Muito muito pequena, do tipo que nem se enxerga a um metro de distância. E longe. Sou demais longe. É demasiadamente longe essa coisa toda que eu sou. Talvez por isso me arrebate tanto, estar perto, tão perto do aqui e agora, e tão perto também do que é grande de verdade.