sexta-feira, 8 de outubro de 2021

na poeira espessa do tempo

Meus ossos não conseguem mais se ajeitar confortavelmente em meu corpo.

Tudo dói,  tudo inflama. Duzentos e poucos pedaços de estrutura biológica completamente desajeitados, fora do lugar.

Olhei aleatoriamente pro céu essa semana e peguei sem querer alguns finais de tarde  ou melhor, eles me pegaram. Nuvens amareladas. Azul quente. O rósea pairando translúcido no ar. Poente. Como poente sou eu.

O tempo se esfarela em poeiras espessas e páginas amareladas, com suas manchas de vida.

Me incomoda muito como a sujeira dos anos se impregna na pele das mãos. Nem uma escovinha de limpeza tira a adesão do pó aos sulcos e vincos de nossa derme (e alma) depois de algumas horas de contato com os velhos objetos (e memórias) guardados.