quarta-feira, 30 de julho de 2014

Sobre cair e permanecer em queda.



Passado, presente, futuro...Memória que enlouquece, pensamento em círculos, em ciclos, existência que adoece...

Aquelas flores cheirosas que ganhei e que parecem não ter forças para sobreviver nesse vaso erradio de terra preta em que as coloquei.
Aquelas pinceladas pretas, fortes, finas, sinuosas. Tinta que manchou.

O êxtase do desbravamento do desconhecido. Prelúdio Continuação da queda, consequência do tempo dedicado a olhar o abismo.

Aquele recuo que tanto tempo atrás comecei a dar, para pegar impulso e pular mais alto, voando por sobre o precipício... Aquele retrocedo... Me imobilizou os braços e me confundiu a alma e as pernas... Em cada arroubo de assombros, me puxou mais para trás, como se fosse para trás que eu devesse ir. De costas, percorrendo o caminho contrário, por entre curvas tortuosas, reencontrei o vão em meio às gigantes pedras, e como se houvesse ali um chão, pisei.

Pisei, no nada, no vácuo, no escuro do mundo e a trajetória mudou a direção para baixo, e como quem nunca teve asas, cai.






E depois é o temor, o tremor, e uma dor que dói grave e me esmaga partindo do útero e se espalha em mim. Eis que de tanto a alma sangrar, o corpo sangrou pela segunda vez.

Sinto meu tato se distanciar, olho para minhas mãos como um morto se olha ao morrer. Sinto minha alma enfraquecer. Mas sei que vivo pois o peso do mundo ainda me devasta. Saindo de mim para o universo e vindo do universo para dentro de mim.

Noto de novo que, "viver dói e ai dos dias que me lembram disso". Ai desses dias pois que se tornam noites e pois que neles não há tempo, nem porvir, nem continuação.


A cãibra vem do peito e afeta todos os órgãos. 
                                                                                                                                 Paraliso o o       o   o.



A vida só sinto nos espasmos, segundo a segundo, a me perturbarem os músculos confusos.

Me desprendo lentamente do chão e me diluo, por entre inércias e impulsos. Me espremo, me aperto, e reluto em diminuir, mas me apequeno mais e mais, como quem tem o coração envolto por uma corda áspera, amarrado intensamente com várias voltas ferinas e hostis.

Uma corda de apequenar... Uma corda de ser mal. Uma corda de ser gente...