Não
seja professor. Não seja o professor que os alunos gostam. Não crie afeição por seus alunos. Não crie tanta afeição por tudo. Não faça coisas que as pessoas chamem de arte. Não
se sinta bem sendo um incômodo -por mais leve que seja- no sistema
do qual és parte. Não seja sensível em demasia. Não seja um incômodo para
sua família. Não seja o estranho entre os seus amigos de infância.
Odeie os detalhes. Não seja observador. Não fique surpreso com tudo
que existe. Não filme eventos irrelevantes do cotidiano como
pássaros voando ou gatos pretos andando em muros. Não cante alto
quando estiver só. Não dance como se ninguém estivesse olhando.
Não dance. Não ame a solidão. Não ame esses dias entre fins de
dezembros e inícios de janeiros. Não ame. Não tenha vontade de
fazer Tai Chi Chuan. Não pare para olhar a lua. Não pare. Não pare
para ver o sol -seja indo ou vindo no horizonte. Não tome banho no maior rio do
mundo. Odeie o maior rio do mundo. Não deixe a janela aberta. Não
pesquise no google sobre os sons de Júpiter e nem de Saturno. Não
faça desenhos. Não fale. Não escreva nada. Não minta. Não
chore. Não tente resolver. Não tente fingir que é capaz de pinçar
apenas o que lhe interessa na vida adulta e sair incólume. Não
precise lidar com números. Não chore. Não tente entender. Não
tenha dificuldade com definições. Não exista. Não seja. Não
queira. Não sinta. Não tente entender.