quarta-feira, 17 de janeiro de 2018

Dentro é um buraco sem fundo


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Acho que morri um pouco. Aliás, sei que morri. De repente parece tudo uma grande tolice. A humanidade é ridiculamente pequena diante do cosmos, quiçá eu. Outro dia experimentei o nada, de novo, mas dessa vez acho que ele me abduziu. Dentro é um buraco sem fundo. Eu trouxe mais alguém pra este mundo. Esse mundo abarrotado de gente que flui dum jeito torto e desconexo entre si. Achei que seria só mais um pedaço de morte, coisa simples, normal, mas grande parte de mim simplesmente não voltou. Quando era criança eu tinha uns insights que me levavam rapidinho no nada e me traziam de volta ofegante, desconfiada, apavorada... Normalmente acontecia na área de serviço: "E se eu fosse uma máquina de lavar?" Sem pensamento, sem coração, sem sentimento ou qualquer sensação??? Era desesperador, tocar a não existência.. A não vida. Estarrecedor pra uma pequena menina. Outro dia, a sensação de não-ser pipocou de novo em minha consciência e se espalhou explosivamente pelo meu corpo, mente, alma... É ruim, mas não consigo evitar. Ao menos era ruim antes, agora talvez eu tenha me encontrado pelo reino absorto do tanto faz. Não ser... Sem expectativas... Sem medos...  Ninguém... Nada... O nada pode ter se tornado uma opção nunca dantes revelada e o tudo continua demasiado pesado, confuso e pretensioso.