segunda-feira, 19 de setembro de 2011

recreio

  

















Sujar as mãos, as calças, a roupa toda. Me ralar, me machucar. Me arrebentar, quebrar a cara, um braço (quebrar as pernas), enfim... Eu posso, que é agora o momento das cicatrizes duradouras, da formação da pele grossa que vai me proteger mais adiante. É agora a hora de sentir as dores insuportáveis dos baques dos cotovelos na dureza das quinas dos brinquedos do parque, só pra saber depois que existem dores maiores e que essas minhas são infimamente suportáveis. Assim como é o momento de cair aos prantos por querer aquela bicicleta ou aquele tênis que acende quando a gente pisa, só pra saber depois que posso muito bem viver sem eles, e que existem milhões de bicicletas e tênis espalhados por esse mundão, que nunca deixarão de existir apenas por que eu não posso tê-los e que querer outras coisas é só uma questão de escolha, e sou eu que comando isso. 



Faz um tempo que eu me sinto assim, no recreio. 
De repente ele até dure pra sempre, não sei... Por enquanto me resta entrar na ciranda e brincar sem maiores pretensões.