terça-feira, 13 de setembro de 2011

exa-gerei quimeras

 Tinha guardado estrelas pra gente brincar depois,
e um monte de flores,
Umas bolhas de sabão pus no bolso,
Algodões macios escondi entre meu pescoço, nuca e cabelos pra que achasses mais tarde,
Ventos suaves acomodei entre minhas pálpebras pra te oferecer quando nossos olhares fossem dançar
Um punhado de jardim tinha plantado na minha alma pra te aconchegar e te oferecer cheiro de mato e de tantas cores das flores mais diferentes e bonitas que eu fosse capaz de oferecer
Me encharquei de chuvas imensas  só pra te proteger da seca sempre iminente
Tinha embalado pra viagem três vôos serenos pra te envolver nas noites de inverno (de um urubu, de um beija-flor e de uma monarca azul)
Absorvi a  energia de árvores gigantes e muito antigas só pra alimentar tua alma.
Tinha ouvido todos os sons do silêncio e guardado pra te dar
Todos os mares do universo eu tinha posto debaixo do braço pra regar teus desertos
e pra nadarmos  -náufragos que somos- juntos e sem rumo
Tinha enchido  pra ti infinitos sacos com os sorrisos e olhares brilhosos das crianças todas desse mundo
Havia recolhido todas as chaves e as ofereceria a ti
Peguei meu mundo e enrolei num pano delicado pra te dar

Como se já não tivesses brinquedos suficientes e nem um céu todo teu,
Como se já não tivesses não somente um jardim, mas toda uma floresta florida
E como se toda a fragilidade e encanto das bolhas de sabão já não fossem teus
Como se tuas mãos já não tivessem algodões dos mais macios e doces para colher
Como se todos os ventos, tanto brisas quanto furacões, já não te pertencessem
Como se teus olhos já não tivessem companhia pra dançar essa vida doida de ritmos estranhos
Como se a tua alma já não fosse só de chuva e seca ao mesmo tempo
Como se tuas próprias penas não fossem suficientes para dar serenidade a teus vôos
e como se não tivesses a convicção de que não podes voar,
Como se tua alma já não fizesse fotossíntese,
Como se não fosses feito todo de silêncio.


Como se um mundo similar ao teu fosse te trazer algo de novo, encantador ou grandioso,
Como se não fosse necessário antes de tudo isso, realmente quereres
ou precisares de um mundo de presente,
Como se um universo transparente, desfocado e esquisito fosse te dar alguma alegria
Como se todas as tristezas da vida já não te pertencessem
Como se em teu país ainda não tivesse havido uma revolução
Como se outras pessoas já não povoassem a terra que és
Como se o carinho e proteção do mundo já não te esperassem no aconchego de casa


Como se todas as crianças do mundo já não fossem tuas,
Como se eu não tivesse medo das palavras, te ouvi.
Como se eu tivesse todas as chaves desses cadeados, destranquei minhas portas pra tua voz, teu nada, teu oceano deserto de palavras, pra ti.
Como se já não possuísses profundezas oceânicas, quis atingir contigo o profundo dos cosmos
E como se nossas almas não existissem sós,  achei que alguma fusão houvesse acontecido

Tudo isso guardei e te ofereci
Como se realmente precisasses de qualquer coisa dessas,
E como se não fosse eu, o tempo todo, que as quisesse ter.